Carregando...

Acompanhe as últimas notícias sobre contabilidade nas principais áreas.

Notícia

'O ano de 2019 está longe de terminar'

Na avaliação de Bruno Fontana, do banco de investimentos Credit Suisse, combinação de taxa de juros baixa e inflação sob controle traz leque grande de oportunidades

As empresas listadas em bolsa levantaram, até outubro, cerca de R$ 70 bilhões no mercado de capitais, valor que pode atingir até R$ 100 bilhões. "Boa parte desses recursos é para expansão", afirma.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

O ano está praticamente acabando e vimos um movimento intenso em operações de mercado de capitais. Veremos mais operações ou o ritmo deve cair?
Neste ano, tivemos três grandes eventos que explicam essa narrativa do que tem sido o ano e o que está por vir. O primeiro, que já aconteceu, é o fim da política fiscal expansionista, que era o Estado financiando o crescimento brasileiro. A gente precisa do surgimento da iniciativa privada para capitanear essa nova expansão da economia. E entro aqui no segundo ponto: a queda da taxa de juros. Pela primeira vez, temos um cenário de inflação e juros baixos. Esse cenário está aqui para ficar e gera diversos impactos positivos.

Quais impactos? O principal é a queda drástica na alavancagem (dívidas), não só das companhias brasileiras, mas também do indivíduo. O que se tem de capital disponível, seja para investir ou poupar, está muito mais claro. Hoje é possível ter previsibilidade. O retorno tem de ser real porque eu não posso mais me financiar com base em dívida pública. Isso também traz o famoso ciclo virtuoso de que o investimento está calcado em fundamentos positivos. Ou seja, o setor privado tem de investir.

A agenda de reformas corrobora para esse movimento?
O terceiro ponto é a questão das reformas. A gente teve a reforma da Previdência - e foi uma vitória enorme desse novo governo. A gente apagou aquele risco de insolvência no médio e longo prazos. A principal sinalização que fica é de que esse governo é capaz, sim, de tocar reformas e abre espaço para outras, como tributária e administrativa.

Apesar dessa agenda positiva, a economia não tem crescido no mesmo ritmo...
O crescimento tem sido mais tímido e gradual. Quando se olha nos últimos dez anos, o crescimento foi de 0,6% ao ano. E tivemos ao longo do caminho a maior recessão da história do País. Mas, considerando esses três pontos citados, vemos uma expansão do PIB de 2,7% para 2020. Para este ano, será próximo de 1,2%. Assumindo que essas reformas continuem andando, esse crescimento virá. Estamos vendo maior plano de investimento das companhias, maior disponibilidade de crédito. Quem está tomando esse crédito também é a população, o que significa mais consumo.

O sr. vê um movimento claro de retomada de investimentos?
O mercado de capitais atraiu, até o momento, cerca de R$ 70 bilhões. O banco participou de 35% dessas operações. Isso sem contar as emissões que foram feitas no mercado internacional, de R$ 4 bilhões. Tem potencial de atingir de R$ 90 bilhões a R$ 100 bilhões. Neste momento, o ano está longe de terminar.

Mas o sr. vê expansão de investimentos nessas captações?
Sim. São dois movimentos. Além do mercado de capitais, estamos também no começo do ciclo das privatizações. Na ponta, o perfil de investidor também mudou.

Por conta desse cenário traçado, dá para dizer que este é o melhor momento para os bancos de investimento após a recessão?
Claro. Os bancos de investimento trabalham dentro de um contexto do potencial que esse mercado oferece. A pergunta é muito simples. A perspectiva é positiva? Os nossos clientes estão enxergando isso. Vê-se um movimento intenso na Bolsa, de oferta primária, que é para expansão. A construção civil é um deles, corrobora com a tese de crescimento.

Muito se falava da volta do interesse do investidor estrangeiro pelo Brasil, mas boa parte dessas emissões teve a participação de investidor local. O que falta para os gringos voltarem de vez?
Quando se olha o histórico de emissões - R$ 70 bilhões este ano -, a média dos investidores internacionais foi de 30%. Esta demanda comparada com outros anos é tímida, mas em termos absolutos é relevante. Os fundos emergentes continuam investindo de forma muito ativa no Brasil. Já entre os fundos globais, a entrada ainda está sendo tímida.

E as privatizações vão deslanchar? Sim. O processo de privatização, como um todo, é complexo porque envolve diversos interesses. E para se ter a aprovação necessária, precisa ter o aval de diversas instâncias. O levantamento do Credit mostra que as privatizações podem levantar de R$ 200 bilhões a R$ 250 bilhões nos próximos anos. Isso sem incluir as vendas de participações do BNDES, que têm potencial de chegar de R$ 100 bilhões a R$ 150 bilhões. Quando se olha globalmente, é difícil achar um programa igual em outros países.

Como o cenário de juros baixos, que o Brasil não conhece, pode ser benéfico para o mundo dos negócios? Temos um cenário local de juros baixos em um cenário global de taxas negativas, o que torna o Brasil um porto interessante para se alocar capital. Além disso, o investidor procura a melhor combinação de valorização e risco. Se você tem uma economia em crescimento como o Brasil, calcado com juros e inflação baixas, esse cenário é interessante para o investidor. O investidor está aprendendo a viver neste cenário, que traz um leque grande de oportunidades. Esse benefício, a gente nunca viu antes.